sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Meu coração automático..



Não consigo entender. Aonde foi que tudo mudou? Quando realmente começou? Em que página do livro da vida eu me perdi? Tudo era tão simples, tão claro. Tão sonhador e mesmo assim, tão real. Era tão fácil acreditar nas pessoas, no amor, nos amigos. Hoje tudo é tão diferente.. Já não me sobra tempo para meus queridos, para mim, para meus pais. Quem me roubou o tempo? Quem me roubou de mim? Pareço ser escrava de um corpo controlado. Ligado ao piloto automático que eu mesma programei. Meu dia é tão cheio de aulas, compromissos e pessoas. Já não sei mais o que é estar sozinha. Apenas percebo claramente que não é a ausência de pessoas que me traz a solidão. Hoje me sinto só em meio a uma enorme multidão. Perdida num mar de idéias, de conceitos ultrapassados que ainda me cercam. Amedrontada por meus antigos traumas.. Abandonada por minhas emoções.. guiada única e exclusivamente pela razão..
Já não sei viver sem rotina, sem agenda, sem o medo de perder compromissos marcados. Já não sei o que é curtir o tempo sem se quer se fazer nada. Perdi o encanto por coisas simples da vida. Já não tenho tempo de ver o sol nascer e se por.. e de noite, até meus sonhos tentam fugir de mim. Pareço colecionar dias.. todos iguais. Em algum lugar se trancafiaram os meus ideais.. e já quase não posso mais encontrá-los. Como fui deixar isso tudo acontecer? Nem meu espelho me reconhece mais. Aonde foram todos os meus amigos? Por que choram meus pais? Quão estranho me é meu próprio irmão! Que alternativa mais "inteligente" trocar meu coração de carne por um cheio de botão. Botões silenciadores, que calaram meu sofrimento, meus medos.. mas também meus sonhos, meu ser, meus sentimentos.. E agora? O que se há de fazer? Onde fica o botão de desligar? Como ao trem que eu decidi subir mandar parar? Onde está a coragem para voltar? Como abrir novamente o peito para receber de volta um coração outrora machucado, que tantas vezes pulsou amargamente.. e ainda hoje sofre as consequências de tamanhos arranhões? Ahh meu rocação automático. Já pulsas em mim tão enferrujado.. Válvulas e dutos não tão bem lubrificados. Teu brilho gelado já não me apraz.. Ainda me falta coragem, mas não te quero mais..


Helena Brandão - 09.02.2009

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Estrelando..



Foi naquela noite, sentada à beira mar... Com os pés beijados pelas ondas e o corpo iluminado à luz da Lua que eu notei pela primeira vez o brilho das estrelas. O céu estava no seu azul mais marinho, e parecia cravejado de brilhantes de todas as cores e tamanhos. Haviam tantas estrelas, que me era impossível contar se quer as que cabiam entre as minhas mãos. Tentei enxergar constelações.. Mas minha imaginação fértil via no céu tudo o que vinha à mente.. e quando estava quase completando as três marias, todas as Marias que eu conheço já haviam me levado a viajar em outros pensamentos.. até uma nova estrela me chamar mais atenção. E a lua, coitada.. Tão brilhante, tão perfeita em suas curvas, e tão sozinha. Que tristeza deve sentir ao ter na imensidão do universo tantas outras como ela, a anos-luz de distância... Observa sozinha, em seu dançar solitário, o canto das estrelas. Conhecida como companheira eterna dos casais enamorados, na sua magnitude, conserva-se a invejar os que na Terra se apaixonam. Recebe o olhar perdido de tantos corações, inspira tantos sonhos... Mas ainda mais inspiração encontro nas estrelas. Como mudam tão depressa sua cor. Estão em constante contração e expansão, num equilíbrio tão tênue.. Em sua simplicidade luminosa, refletem em nós todas as noites, a certeza de que o limite não é o fim. Há quem diga que existem estrelas cadentes. Talvez seja a morte de uma estrela que já brilhou tudo quanto podia. Mas, mesmo nesse momento tão nefasto, ainda promete realizar o desejo daquele que por sorte, captou com os olhos tão raro acontecimento. Em sua queda, ascende as esperanças de um coração sonhador. Há quem acredite que quem na Terra morre, suba ao céu como uma estrela.. Eu não. Estrelas pra mim são, junto com os outros astros, o símbolo da renovação. Guardam em sua memória tantas histórias... Foi sob a luz das estrelas, e não da lua, que descobri o amor. Foi sob seu silêncio, que minha alma tantas vezes gritou em desespero.. E foi sob suas indas e vindas, que eu entendi a lição. Podem desabar os céus em tempestade. Raios ofuscantes podem cortar as núvens negras. O vento pode soprar todas as águas... e nem sempre poderemos vê-las. Mas a certeza de que estarão sempre ali, mesmo que há anos luz.. nos motiva a continuar vivendo. E o mais magnífico de tamanha proeza, é ter a certeza, de que quanto mais escuro for o céu, maior será o brilho de uma estrela.

Post dedicado ao meu amigo Victor, de Udia, pela sua magnífica idéia.. ;)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

ACORDA!!!




É meia noite. As ruas estão vazias. O vento sopra fininho, levitando folhas secas de outono. Os prédios coloridos, com seus grandes anúncios, parecem brilhar mais do que as estrelas. As casas com as luzes apagadas, o carro na garagem. Tudo parece dormir. Mas você não.


Fecha os olhos, e quanto mais força faz para mantê-los assim, menos consegue. Rola no colchão, se enrola e desenrola dos lençois. O travesseiro parece quente. Um suor gelado brota da pele. Taquicardia. Até respirar parece difícil. Você se levanta, caminha pela casa, vazia. Todos dormem, menos você. Abre a geladeira, se afoga em doces, cookies e leite. Mas não adianta. O vazio de dentro não é fome. E você sabe disso. Ainda de pijamas, entra no carro, sem destino certo, e começa a dirigir.


Anda pelas avenidas, dobras as esquinas, à procura daquilo que nenhuma loja pode vender. E nenhum dinheiro pode comprar. Abre as janelas, e respira fundo o orvalho da madrugada. O ar inspirado entra nos pulmões, e parece injetar ao sangue, as mais temidas lembranças... Gelam os veias e as artérias, chegando até ao cérebro.. Dor de cabeça.


Dirigir agora é quase um ato reflexo. Por um segundo, fantasmas do passado te assombram a mente. Aparecem no banco do passageiro, atravessando a rua, ou simplesmente voando por aí.


As lembranças doem. Você acelera, pisa fundo.. tentando matar atropelada cada memória, cada pessoa, cada fantasma. Mas eles não morrem.. Você decide fugir. Como sempre fez. Corre desesperadamente, em direção a qualquer lugar.. Tudo o que você quer é esquecer, apagar tudo. Se ver livre do que te causa dor.


Então, num súbito suspiro, você acorda. Lençois molhados. Coração palpitante. Escuridão total. Terá sido um sonho? Está você ainda dentro do carro? Vivo?


O tic-tac do relógio se torna ensurdecedor.. mas o medo de se levantar e encarar a vida é aterrorizador.. e você prefere se reduzir ao estado deplorável que está.


Os fantasmas do passado ainda te prendem e sugam de você os minutos preciosos de vida que se esvaem... E você continua deitado. Assistindo de camarote a sua vida passar.. Se escondendo em sua própria covardia. Vivendo a vida medíocre que você mesmo escolheu viver. Sofrendo dores já doídas, abrindo cicatrizes já fechadas. Remechendo aquilo que já estava guardado.. Se prendendo em cadeias que você faz questão de construir. Achas mesmo digno de continuar vivendo? O que esperas? Um milagre? Alguém que te acorde, puxe pelo braço e te faça viver? ACORDA!! Lava o rosto, e deixa escorrer pelo ralo da pia todas as mágoas.. Saia da sua redoma de cristal, abra a janela! Ao contrário do que você imaginou, o sol já está brilhando a muito tempo. Só você não percebeu. A escuridão que tanto temes nada mais é do que o tapa-olhos que você mesmo colocou. Há um lindo dia lá fora, esperando por você. Vais mesmo continuar morrendo? A vida é muito preciosa para ser desperdiçada. E um dia você pagará o preço de cada escolha que fizer, ainda que seja não escolher nada. Por isso, pare de se sabotar e VIVA.