
Já faz muito tempo que ele morreu. Se foi fácil? Um coração nunca morre fácil. Bate, nem que seja fraquinho, em quase silêncio, no fundo do peito.. Apanha, coitado.. Sofre.. Um relacionamento falido após o outro, vão como em tapas, quebrantando o maior órgãos nobres... fonte de vida a todos os demais. Mas, mesmo quebrantado, depois de cada queda, ele ainda se recupera.. se você estiver disposto a juntar todos os pedaços. Às vezes, são tantos, que o tempo demora até a cola toda secar.. Às vezes, nem temos cola suficiente.. Mas ele mesmo se rearruma devagar. Sempre dá um jeitinho de voltar a pulsar. Isso se você não deixar de colar. Um coração de verdade só morre, quando você decide matá-lo. E toda morte é suicído.. Afinal, única e exclusivamente VOCÊ é capaz de matar. Às vezes a morte é fria e calculada. Em outras, é arrastada e masoquista, onde cada sinal de vida, aos poucos, se esvai. Primeiro você deixa de tentar. Depois, de aceitar. Vai deixando de sonhar.. Até no fim, deixar de acreditar. Se afoga em outras coisas, tentando a dor aliviar. Estudos, trabalho, igreja.. sempre há algum analgésico potente que faça com que ela desapareça. Aos poucos, você se acostuma até nem sentir mais. Daí, só mais alguns meses, até ele dar o último grito desesperado. Mas não se preocupe.. não é um berro alto. Na verdade, é bem baixinho. Soa quase como um sussurro.. E se você não ouvir, relaxe. Não mais, precisarás. Acontece uma vez só. Num breve instante, e nunca mais.