terça-feira, 26 de janeiro de 2010

(in)satisfação - Uma questão de prefixos.



Algumas pessoas colocam a culpa no destino. Outras, culpam a sí próprias. Eu não sei bem a quem culpar. Talvez porque na verdade não haja culpa alguma. Ou...

Talvez o problema esteja comigo, bem na minha essência.
Como todo acadêmico de mecidina, apaixonado pela profissão, sempre gostamos dos casos mais difíceis, mais raros, mais impossíveis. Nos fascinamos com paradas cárdio-respiratórias, choques anafiláticos, bronco-espasmos, e comas profundos. Não, a morte não é a nossa busca. Mas a sensação de roubá-los dela quando tudo e todos já haviam dado o veredito final, é simplesmente fascinante, recompensadora. E nesses casos, nunca medimos esforços. Noites e noites viramos acordados de plantão, torcendo baixinho para que tudo termine bem. E quase sempre termina. O poder concedido por Deus para salvar e transformar vidas é tão maravilhoso quanto sermos dignos de sair "voando" pelos corredores, como super-heróis, carregando nossa super-capa branca..

Talvez seja por essa eterna busca pelo milagre, pela transformação, pelos casos impossíveis, que ainda não tenha me "realizado" em todos os sentidos da vida.. mas, como toda troca de plantão, como toda "alta" assinada, como todo sorriso sincero de agradecimento do paciente e da família após um esforço sub-hunano, eu sei o quanto a esperança e perseverança compensam..

E se meus sonhos nem sempre se realizam, e pesadêlos se fazem presentes, eu sei que não preciso temer. É só esperar mais um pouquinho, que a manhã, assim como o fim do plantão, já está chegando. O segredo, é sempre lembrar que são nas noites mais escuras, que as estrelas brilham mais. Afinal, do que seria a vida, se não houvesem sonhos pelos quais valesse a pena viver e lutar?

sábado, 23 de janeiro de 2010



O papel já está gasto de tanto apagar. O lápis já quase sem grafite, insiste em rabiscar. Rápido, corre da borracha, que não tema em trabalhar. E mais uma vez, o coração continua quase em branco.
Tantas desculpas ensaiadas, tantos diálogos formulados e treinados sempre no pensamento em frente ao espelho, como se eu pudesse desabafar e enfim dizer à você tudo o que está preso aqui dentro.. Mas a boca nada consegue expressar. Os lábios tremem mas nenhum som é ouvido.
A mente está livre, mas o coração continua preso. Lágrimas, ah.. as velhas lágrimas. Companheiras de longa data.. Nem elas apareceram para me consolar. Foi assim que eu entendi que as lágrimas mais sentidas, aquelas mais doloridas, não são as que escorrem pelo rosto, e sim, aquelas que deslizam devagar, silenciosas no interior da alma. Tempestade de pensamentos atordoam a quietude que insisto em tentar reformular. Só não encontro fórmula poderosa o suficiente para solucionar os problemas que você um dia me causou. Já usei tantas borrachas na tentativa de te apagar.. mas sempre fica uma mancha escura. As letras do teu nome, ainda que sem cor, permanecem como marcas profundas, escritas bem no centro, do meu coração. E parece que quanto mais forte eu aperto a borracha, mais profunda fica a marca. Às vezes tento me enganar, me iludir, acreditar que já recuperei o branco puro, mas hoje percebi que é tudo perda de tempo. Nenhuma borracha que eu use conseguirá te apagar. Nem outros lápis, muito menos algum pincél. Preciso mesmo, é de um coração mais duro, já que o meu é um simples, fino, amassado, molhado e quase apagado, coração papel.


Sk, em alguns muitos meses atrás.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Estrelinhas entrelinhas..



Dizem que é melhor se arrepender de algo feito, do que se sentir arrependido por nunca ter tentado. Talvez seja verdade, talvez não. Mas se prender a coisas do passado, esquecendo que a cada dia a vida nos dá mais 24h p/ mudar, inventar, renovar, e ser feliz, definitivamente é burrice. Olhar p/ trás e se esFORÇAR em algo que quanto mais se força, menos se alcança, é insanidade. Pedir ao Céu que derrame novamente uma chuva que já desceu.. É como amar de peito aberto, um amor que já morreu.
Um ano novinho em folha acaba de começar.. Vamos tentar fazer das lembranças, apenas vagas lembranças... Deixar passar o que já foi.. E abrir o peito p/o que virá? Tentar viver menos "Talvez futuro" e mais "agora certo"?
Hoje sinto que me liberto das pesadas correntes que um dia EU me prendi.. Sem notar que reciprocidade inconstante está muito distante do que um dia eu sonhei p/ mim.
Hoje, sinto que posso respirar, encher o peito de um novo ar.. E com os braços abertos, poder gritar enfim.. LIBERDADE! Hoje sinto-me mais EU e menos alguém. Hoje sinto que viverei intensamente ESTE ano que é meu, e não um talvez "ano que vem".. P0rque quem sabe o que quer, faz por merecer, e faz AGORA.

domingo, 10 de janeiro de 2010

E por falar em saudade..



Passei esse fds no sítio da minha bisavó.. Um endereço um tanto acolhedor. Longe da cidade, entre dois cemitérios, na rua do presídio. Ou melhor, do lado, muro com muro, do presídio.
É uma realidade bem diferente da que eu estou acostumada a viver. Dormir ouvindo o cantar de grilos, e ser "protegida" não por cerca-elétrica, mas por guardas em cima do muro. Alguns milhares de tijolos dividindo a liberdade, da prisão.
Do lado de cá, na "liberdade", resolvi me prender do lado de fora do mundo.
Nesses 3 dias, me abstive de meios de comunicação. Celular, telefone fixo, internet.. Curti minha família, minha cadela, e outros animais do sítio.. Relembrei como é ser feliz sem tecnologia. Tomei banho de mangueira no quintal, rolei na grama.. dancei ao som de "o bife". Ouvi histórias sobre a chegada da televisão, do telefone celular, do computador. Dá época que o fusca era um carrão. Entendi a diferença entre lampião, lamparina e aladim. Ouvi dos namoros de porta, casamentos arrumados, e muita prosa, trocada nas praças.
Hoje, em tempos modernos, as televisões são quase obras de arte, de tão requintadas. Os computadores, cada vez mais leves, rápidos, eficientes. A internet, juntando e separando tudo e todos, ao mesmo tempo. E celular? Até mendigo tem. Mas os amores daquela época... ahh..
Os amores sonhadores, secretos.. Amores inocentes, respeitadores.. Amores românticos.. do tipo que ainda manda flores.. (se alguém lembrar da música, fez parte desse tempo.. rs).
Às vezes não nos damos conta de que vivendo a tão sonhada e conquistada "liberdade" do século 21, nos tornamos cada vez mais escravos.. Do trabalho, do relógio, dos outros. Até nos relacionamentos, onde um é o escravo (geralmente quem mais ama), e o outro manda (o que ama um pouquinho menos). E como tememos ficar no primeiro grupo. Será que depois de tantos impossíveis alcançados no mundo da tecnologia, o amor verdadeiro se "impossibilizou"? Será que ele se escondeu no interior das caixas mágicas, nas novelas e historinhas infantis?
Mas se a história da fenix se faz verdade na economia, tomara que se faça também nos corações. Torço baixinho, aqui no meu blog, para que o amor possa renascer das cinzas em que o tempo o transformou. E tomara que não demore muito, para que eu ainda tenha tempo de viver um desses por aí.
Besta? Sonhadora utópica? Talvez.
"Apesar de todo progresso, conceitos e padrões atuais
Sou do tipo que na verdade sofre por amor e ainda chora de saudade".
E que atire a primeira pedra quem lá no fundo, não quer a mesma coisa que eu. Podem até se orgulhar da lista interminável de ficantes que a liberdade dos relacionamentos de hoje nos traz.. Mas quando a noite cai, e a cabeça se reclina ao travesseiro, a consciência e o coração gritam em unanimidade a única vontade: Amar, amar, e amar..

Ps: A música chama Amante à moda antiga, de Roberto Carlos. Vale a pena escutar!

sábado, 2 de janeiro de 2010

Velho pai..



Ainda me lembro, como num filme em sépia..
Sua mãe, tão nova, com uma parte dos cabelos presa, e alguns outros, caindo-lhes pela face..
Vestida apenas num blusão branco, meu..
Ansiosa, andava de um lado para o outro, com um indicador na mão.
Os segundos pareciam não passar... Como o relógio se espreguiçava ao rodar.
Então, um grito!
Sim! Sim! Sim! Era verdade! Você estava começando a se formar.. lá dentro!
Ela correu até mim, e se jogou num grande pulo nos meus braços e, mordendo os lábios me disse: Serás papai!
Acho que nunca tinha ouvido algo tão assombrador e feliz ao mesmo tempo! Mas a felicidade dela era tanta que não tinha como manter meus lábios fechados.. Foi aí que um grande sorriso saiu de mim também.
Os meses foram passando, e em meio a enjôos e desejos, podia ver aquela barriguinha linda surgir..
Deitada na nossa cama, eu a acariciava.. tão suave.. e você respondia com um arrepio.. Imagino que pudesse sentir..
Um dia, sua mãe chegou em casa com o primeiro par de sapatinhos.. não sabíamos se você seria menino ou menina, então, compramos branco.. Foram os sapatinhos mais lindos que eu já vi na vida. E, aos poucos, compramos seu enxoval completo.
A barriguinha se tornou barrigão.. tão rápido! Eu mal podia esperar o dia.. e ao mesmo tempo, tinha medo dos dias que viriam! Tanta responsabilidade.. insegurança..
Seu primeiro chute.. tão mágico, divino.. Era real! Era você..
Então o grande dia chegou.. Fomos às pressas até o hospital, e levaram sua mãe em uma cadeira de rodas. E eu passei ali, na sala de espera, os minutos mais angustiantes da minha vida..
De repente, alguém atravessou a porta! Não me lembro quem.. Estava concentrado demais em você para notar! Colocou em meus braços você!
Tão pequenino, roxo, chorão.. De olhinhos fechados, dedinhos gelados, e um rápido coração!
Queria tanto te abraçar, mas você parecia tão delicado, que tinha medo de te machucar.. Te envolvi então suavemente com meus braços e pela primeira vez, pude te ninar..
Quão surpreso fiquei quando paraste de chorar, e teus olhinhos, vi brilhar!
Um ser tão pequeno, indefeso, completamente dependente de mim, da minha atenção, do meu amor, dos meus cuidados, da minha proteção..
Mas, o mesmo alguém que te trouxe precisava te levar..
Ah, foi o dia mais feliz da minha vida!
Aos poucos você foi crescendo.. e como foi bom presenciar! Te ensinar a equilibrar-se numa bicicleta.. Cuidar de seus ferimentos..
Carregar você todo sujo de lama, comemorando um gol no futebol!
Ajudar na conquista da primeira namorada..
Te esinar a dirigir..
Te dar o primeiro consolo, após um fora.. e ensiná-lo de que a vida continua..
Filho, filho meu.. Podes pensar que muito te ensinei... Mas te digo hoje, que mais da metade de tudo que aprendi na vida, me ensinaste tu, sem se quer saber. Te peço desculpas por alguma mágua, ou erro que esse grande velho cometeu.. Mas te digo, que foi por acreditar que seria para o teu bem.. E se algumas vezes apanhaste, meu coração cheio de amor, sentiu mais dor, do que tu podes imaginar.
Hoje, tão grande, te vejo casar..
Sei que irás partir, construir a tua própria família, e aguardar essa princesinha linda chegar. Te peço apenas que ame Juliana, e a pequena Isabella que já já nascerá.. E que em meios aos afazeres do mundo, não as deixe em segundo lugar.
Porque tudo na vida passa, e só o amor e a família ficam.
E, se em teu coração, espaço sobrar, te peço encarecidamente, que nunca esqueças o caminho da casa de teu velho pai..
Se com os braços fechados num abraço, te vejo ir..
Com os braços abertos, espero te ver voltar!

Com muito amor,
Papai.

Ainda não, mas quase...



A tarde começa a cair novamente..
Mais uma, de tantas iguais.
O sol se despede quietinho, em um longo e morno silêncio.
As nuvens frias e escuras mostram em seu sorriso, um lindo boa noite.
O ventilador continua girando, lento, como se ainda fosse preciso algum vento.. não bastasse o que entra cantando pelas portas da varanda.
A cortina branca, voa, acariciando o ambiente, e sombreando o papel que eu escrevo..
Tocando de leve, o armário da sala.
Ah, o armário. Tantos segredos guardados em caixas de papel.
Momentos registrados em fotos, perfumes, objetos.. Lembranças de um tempo feliz, e de tempos tristes também.
Quisera eu ter forças para jogar tudo fora.. Sim! Nessa lixeira ao lado! Jogar tudo! Fechar os olhos, acender um fósforo e pronto! Queimar tudo de uma vez, até as cinzas! Não quero que sobre nada! Nada! Nem um pedacinho se quer que me lembre de ti..
Ahh.. onde conseguiria tamanha força? Ainda não, mas quase..
Ainda não consigo te mandar embora da minha vida por completo.. Mas já consigo pedir em baixinho, mesmo com algumas lágrimas, que você me de um minuto a sós comigo mesma.
Não consigo te expulsar do pensamento, mas já consigo pedir que você dê um pouco de espaço para outros pensamentos que começam a se formar..
Ainda não consigo imaginar você com outra.. mas consigo começar a me imaginar sozinha. E ainda que doa, tento me convencer de que vai ser melhor assim.
Tento entender por que acreditei em você, quando todos me diziam que ia terminar dessa maneira..
Mas ainda assim, decidi acreditar.. Acreditei no que os seus olhos diziam, ou no que os meus queria ver.. Não sei ao certo..
Não entendo porque você insiste em voltar, quando eu te peço que vá para longe.
O que você quer? Não satisfeito com meu choro desesperado recém-cessado, quer me ver lagrimar em silêncio a cada dia, lamentando a tua partida?
Não te contentas com a ferida que fizeste, e ainda tens que cutucar?
Ainda não cicatrizou, mas tá quase...
Posso dizer que ainda não sou forte o bastante para te expulsar por completo.. mas aos poucos, vou te permitindo ir..