terça-feira, 26 de janeiro de 2010

(in)satisfação - Uma questão de prefixos.



Algumas pessoas colocam a culpa no destino. Outras, culpam a sí próprias. Eu não sei bem a quem culpar. Talvez porque na verdade não haja culpa alguma. Ou...

Talvez o problema esteja comigo, bem na minha essência.
Como todo acadêmico de mecidina, apaixonado pela profissão, sempre gostamos dos casos mais difíceis, mais raros, mais impossíveis. Nos fascinamos com paradas cárdio-respiratórias, choques anafiláticos, bronco-espasmos, e comas profundos. Não, a morte não é a nossa busca. Mas a sensação de roubá-los dela quando tudo e todos já haviam dado o veredito final, é simplesmente fascinante, recompensadora. E nesses casos, nunca medimos esforços. Noites e noites viramos acordados de plantão, torcendo baixinho para que tudo termine bem. E quase sempre termina. O poder concedido por Deus para salvar e transformar vidas é tão maravilhoso quanto sermos dignos de sair "voando" pelos corredores, como super-heróis, carregando nossa super-capa branca..

Talvez seja por essa eterna busca pelo milagre, pela transformação, pelos casos impossíveis, que ainda não tenha me "realizado" em todos os sentidos da vida.. mas, como toda troca de plantão, como toda "alta" assinada, como todo sorriso sincero de agradecimento do paciente e da família após um esforço sub-hunano, eu sei o quanto a esperança e perseverança compensam..

E se meus sonhos nem sempre se realizam, e pesadêlos se fazem presentes, eu sei que não preciso temer. É só esperar mais um pouquinho, que a manhã, assim como o fim do plantão, já está chegando. O segredo, é sempre lembrar que são nas noites mais escuras, que as estrelas brilham mais. Afinal, do que seria a vida, se não houvesem sonhos pelos quais valesse a pena viver e lutar?

9 comentários:

  1. É uma boa colocação sobre esse aspecto da profissão de buscar os casos mais complexos para se dedicar mais à um paciente com necessidade maior de tratamento. Porém é fato que tem muitos profissionais dessa áres que vêem uma doença de um paciente como um quebra-cabeça e vêem como um desafio para satisfazer seu ego pessoal.Se o que você diz põe em prática, dou os parabéns a você.

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  2. Os ingênuos dizem que os médicos salvam vidas. Não, na guerra contra a morte a derrota é fatal. Quando ela decide vir o médico pode fazer todos os prodecimentos adequados, injetar todos os químicos corretos e não tem jeito a pessoa morre. A missão do médico é mais profunda e mais urgente, é tornar o fardo de viver menos doloroso, é dar qualidade de vida aos seus pacientes, seja pra quem está com uma mera dor de cabeça a quem está com aids ou câncer. Para ser médico de VERDADE tem que se preparar para lidar com a dor da perda, porque no final ele SEMPRE perde. E se é interessante aprender os casos raros e difíceis talvez seja mais interessante ainda atenuar a dor daquela multidão que sofre com os casos mais simples, e até morrem por causa deles.

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  3. Anônimo 2.0 Power Plus5 de fevereiro de 2010 às 02:34

    Quase deuses.
    Eis a medicina, forjada em uma bigorna de temor, uma fornalha de ego e um martelo de inquietude. Quando o homem transpôs o puro estado teológico de pensamento e começou a questionar se as pessoas ao seu redor deveriam continuar a morrer como mero acaso do destino ou por capricho divino, surgiu a arte da vida. Aqueles que simplesmente não baixavam a cabeça para a tão divina Extrema Unção no leito de morte, foram aqueles que também nos salvaram das trevas da alienação.
    Sabe o que separa um bom advogado, ou lutador, ou corredor, ou, enfim, de um ruim? A proporção entre suas vitórias e derrotas. Sabe o que define um grande cirurgião? A mesmíssima coisa, com uma única e devastadora diferença, ele luta e vence a “morte”. Um cirurgião não faz a incisão e reza para Deus terminar o trabalho, muito menos implora para os santos colocarem as “bíblias” médicas em sua cabeça. Ele sabe que se não estudar, não cortar e não fechar, estará na hora de chamar um padre. Mas enfim, “Deus atua iluminando seus pensamentos e segurando as suas mãos”, que seja...
    Sabe o que difere de um broncoespasmo no hospital de um na Igreja? É que no primeiro a pessoa vive para abraçar seus filhos novamente, no segundo, foi vontade de Deus, então, que assim seja, vá nas mãos do misericordioso.
    Sabe por que você vive além dos 40 anos? Porque Deus intervém mais nessa geração, ele não gostava muito dos nossos antepassados. Sabe por que pobre morre cedo? Porque Deus gosta de gente que consegue pagar plano de saúde. Sabe por que morriam tantas crianças e mães nas mãos das parteiras? Porque Deus prefere trabalhar nos hospitais.
    E se a velhice também não fosse tomada como um mero capricho divino, mas sim como uma doença? Esquecendo todos os conflitos éticos e religiosos envolvidos, e se a morte fosse definitivamente vencida? Tal como nas células neoplásicas, sob diversos mecanismos, enfatizando a atuação da telomerase, podemos ter células que não envelhecem. Indo mais além, e se conseguirmos curar os estigmas das doenças genéticas com as tão novas terapias na área, ou ainda, e se nós conseguirmos provar que um clone é digno de viver, mesmo “sem alma”.
    Enfim, a medicina não seria o que é se todos baixassem a cabeça e aceitassem a “vontade de Deus”, um grande médico, antes de tudo, deve sim pensar que é capaz de vencer a morte, de dar a vida, tirar a dor, mudar o mundo. O médico deve ter ciência de que se ele é procurado, é porque a pessoa não optou por um padre para perdoá-la de seus pecados, e que nas mãos dele vai repousar, sempre, a responsabilidade da vida e da morte.

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  4. Ow, anonimo aí de cima! Quem foi que disse que Deus é quem mata as pessoas?
    Pelo que eu saiba os médicos são pessoas que tem o extraordinário trabalho de salvar vidas e cuidar da saúde das pessoas, e não seres prepotentes que acham que podem impedir a tal "vontade de Deus" que você falou... afinal de contas, Deus sempre ajuda os médicos, mesmo os descrentes, pois eles fazem oq Deus mais aprecia fazer: salvar vidas...

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  5. Anônimo 2.0 ultra mega power plus6 de fevereiro de 2010 às 01:05

    Ah, obrigado pela dica amigo.
    Osana nas alturas. =]

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  6. Quanta bobagem. Como foi dito no meu post, médico não salva ninguém ele apenas TENTA retardar o inevitável e TENTA dá qualidade de vida ao paciente e fim de papo. O resto é delírio de gente que idealiza demais as coisas.

    A profissão de médico não é linda é duríssima, lidar com doenças, espirros de sangue, vômitos, inconformismos e morte não é fácil. Não é à toa que pesquisa do conselho federal de medicina constatou que 60% deles tomam algum tipo de droga, 70% se divorciam antes de completar cinco anos de casados (a média é 50%).
    Sem falar que ser médico SÉRIO é difícil já que boa parte é forçada a inventar procedimentos (em hospitais particulares conveniados pelo SUS) os cursos de medicina em regra não preparam ninguém (não é à toa que o conselho de SP quer prova tipo OAB para peneirar a legião de incompetentes que se formam) e fala sério, boa parte mercantiliza a profissão ou se escraviza nos planos de saúde.
    Enfim, é uma vida dura.
    E só foi valorizada recentente. Leiam os Maias e Madame Bovary. No primeiro a família da MAIA entra em choque quando o filho ao invéz de fazer direito (como todo mundo distinto e nobre faz) inventa de cuidar de emplastros e feridas (fazer medicina) para alegria geral, Carlos da Maia nunca exerce. No segundo, a famosa madame Bovary mete chifre no marido justamente porque ele tem uma péssima profissão: é licenciado em medicina. (é gente, essa besteira de chamar médico de Doutor também é recente).
    Enfim, não é Deus que mata ninguém nem tampouco médico salva ninguém. Quando a natureza CHAMA, o médico pode seguir todos os procedimentos, aplicar todos os recursos, e mesmo assim cara, o paciente MORRE.

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  7. Gente.. meu objetivo aqui não é discutir religião ou crenças. Eu amo a medicina, e acredito ser ela um dom. Não é fácil MESMO trabalhar com o ser humano e suas secreções, doenças, enfim! Eu particularmente acredito muito em Deus, e acredito que Ele faz milagres numa sala cirúrgica porque EU já vi acontecer. Mas, cabe a cada um escolher acreditar ou não em Deus, na medicina ou em milagres. Eu acredito. E respeito quem não o faz. Se até Deus deu o livre arbítreo aos seres humanos, quem sou eu p/ tentar tirar.

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