sábado, 2 de janeiro de 2010

Velho pai..



Ainda me lembro, como num filme em sépia..
Sua mãe, tão nova, com uma parte dos cabelos presa, e alguns outros, caindo-lhes pela face..
Vestida apenas num blusão branco, meu..
Ansiosa, andava de um lado para o outro, com um indicador na mão.
Os segundos pareciam não passar... Como o relógio se espreguiçava ao rodar.
Então, um grito!
Sim! Sim! Sim! Era verdade! Você estava começando a se formar.. lá dentro!
Ela correu até mim, e se jogou num grande pulo nos meus braços e, mordendo os lábios me disse: Serás papai!
Acho que nunca tinha ouvido algo tão assombrador e feliz ao mesmo tempo! Mas a felicidade dela era tanta que não tinha como manter meus lábios fechados.. Foi aí que um grande sorriso saiu de mim também.
Os meses foram passando, e em meio a enjôos e desejos, podia ver aquela barriguinha linda surgir..
Deitada na nossa cama, eu a acariciava.. tão suave.. e você respondia com um arrepio.. Imagino que pudesse sentir..
Um dia, sua mãe chegou em casa com o primeiro par de sapatinhos.. não sabíamos se você seria menino ou menina, então, compramos branco.. Foram os sapatinhos mais lindos que eu já vi na vida. E, aos poucos, compramos seu enxoval completo.
A barriguinha se tornou barrigão.. tão rápido! Eu mal podia esperar o dia.. e ao mesmo tempo, tinha medo dos dias que viriam! Tanta responsabilidade.. insegurança..
Seu primeiro chute.. tão mágico, divino.. Era real! Era você..
Então o grande dia chegou.. Fomos às pressas até o hospital, e levaram sua mãe em uma cadeira de rodas. E eu passei ali, na sala de espera, os minutos mais angustiantes da minha vida..
De repente, alguém atravessou a porta! Não me lembro quem.. Estava concentrado demais em você para notar! Colocou em meus braços você!
Tão pequenino, roxo, chorão.. De olhinhos fechados, dedinhos gelados, e um rápido coração!
Queria tanto te abraçar, mas você parecia tão delicado, que tinha medo de te machucar.. Te envolvi então suavemente com meus braços e pela primeira vez, pude te ninar..
Quão surpreso fiquei quando paraste de chorar, e teus olhinhos, vi brilhar!
Um ser tão pequeno, indefeso, completamente dependente de mim, da minha atenção, do meu amor, dos meus cuidados, da minha proteção..
Mas, o mesmo alguém que te trouxe precisava te levar..
Ah, foi o dia mais feliz da minha vida!
Aos poucos você foi crescendo.. e como foi bom presenciar! Te ensinar a equilibrar-se numa bicicleta.. Cuidar de seus ferimentos..
Carregar você todo sujo de lama, comemorando um gol no futebol!
Ajudar na conquista da primeira namorada..
Te esinar a dirigir..
Te dar o primeiro consolo, após um fora.. e ensiná-lo de que a vida continua..
Filho, filho meu.. Podes pensar que muito te ensinei... Mas te digo hoje, que mais da metade de tudo que aprendi na vida, me ensinaste tu, sem se quer saber. Te peço desculpas por alguma mágua, ou erro que esse grande velho cometeu.. Mas te digo, que foi por acreditar que seria para o teu bem.. E se algumas vezes apanhaste, meu coração cheio de amor, sentiu mais dor, do que tu podes imaginar.
Hoje, tão grande, te vejo casar..
Sei que irás partir, construir a tua própria família, e aguardar essa princesinha linda chegar. Te peço apenas que ame Juliana, e a pequena Isabella que já já nascerá.. E que em meios aos afazeres do mundo, não as deixe em segundo lugar.
Porque tudo na vida passa, e só o amor e a família ficam.
E, se em teu coração, espaço sobrar, te peço encarecidamente, que nunca esqueças o caminho da casa de teu velho pai..
Se com os braços fechados num abraço, te vejo ir..
Com os braços abertos, espero te ver voltar!

Com muito amor,
Papai.

Um comentário:

  1. Lendo este texto só me restou dá um breve, genuíno, e verdadeiro...SORRISO.
    smack

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