quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Ela..



Uma certa tarde, vagando pelo calçadão no Rio de Janeiro, avistei uma das cenas mais belas da minha vida. Ao por do sol, um casal de idosos, contemplava sentados na areia da praia de São Conrado, o findar do dia. Aquilo me fez parar e pensar... nela. Será que envelhecerei feliz ao lado dela? Será que o amor, se é que assim posso chamar, será forte o bastante para superar a monotonia da rotina inevitável da convivência diária? Será que terei paciência para superar seus defeitos? O que ela significa para mim, a ponto de eu abrir mão de viver loucamente, e simplesmente esperar o incerto?

Então me veio à cabeça a sua imagem. Sempre com um lindo sorriso estampado no rosto. Sorriso esse misterioso, que muitas vezes esconde o pesar do coração. Sabe, ela não é das mais lindas para os homens.. mas é linda para mim. Baixinha, gordinha, branca dos cabelos ondulados e negros. Seus olhos.. Olhos esses tão lindos, de um castanho tão profundo.. mesmo que escondidos por lentes de vidro frias, conseguem, quando ela quer, aquecer o meu olhar. Seu jeito despojado, hora séria, hora brincalhona, mesmo em momentos onde eu desejaria um pouco mais de seriedade, a faz permanecer por pouco tempo na rotina. Está sempre mudando, nem sempre para melhor. Hora mulher, hora menina, e infelizmente, hora moleca. Ao mesmo tempo que consegue extrair de mim a mais gostosa gargalhada, as vezes brinca com meus sentimentos de maneira tão calculista, que me faz chorar. Hora uma boba apaixonada, linda.. balbuciando como um bebê, as declarações de amor mais belas que um homem pode ouvir. Hora fria, longe, monossilábica. Inconstância essa que me desafia a conquistar, a cada dia um pouco mais, e ao mesmo tempo, em dias mais nublados, me tira a força, a motivação, me cansa. Esperta, vivida, experiente, enganaria se quisesse o mais sábio homem. Que dirá um simples moribundo vivendo seus primeiros anos no mundo do amor. Inteligente, se dedica tanto ao trabalho que me faz pensar se terei algum espaço na sua mente, envolta por tantos cálculos, física, matemática... Cheirosa! Sim.. O perfume mais delirante que uma mulher pode ter, ela o tem, e em abundância. Suas mãos delicadas e suaves, acariciando meu corpo, me fazem sentir o inexplicável. Sua doce voz, sussurrando ao meu ouvido.. causam o melhor dos arrepios. Seus beijos, ah! Tão imprevisíveis, roubam de mim o controle do meu próprio eu. Não, das bocas que eu já beijei, não é a mais gostosa. Mas o conjunto, a faz melhor. Misteriosa, esconde no coração um passado do qual eu não faço parte. Não responde muitas das minhas perguntas, e nem me pergunta demais. Se mantém no isolamento do seu mundo, deixando-me conhecer apenas aquilo que ela deseja. E se hora penso que a conheço tão bem quanto a palma da minha mão, adivinhando as palavras que ela vai usar, outras, percebo que não a conheço nem um pouco. Se as vezes planeja comigo o nosso futuro, as vezes me mostra sem perceber, que eu o planejo sozinho. Oh, como ela me conhece! De todos os lados e ângulos, por dentro e por fora. Conhece os meus podres, meus defeitos, minhas qualidades, meus anseios, meus desejos, meus pontos fracos.. Sabe me manipular como ninguém.. mesmo sendo tão nova. Longe está de ser inocente. Sei o quanto sabe destruir corações, principalmente de homens apaixonados como eu. Mas o que eu posso fazer, se o amor não é uma escolha? E se me assusta o fato de estar, quem sabe, irreversívelmente preso à essa mulher, ou à ilusão que eu mesmo criei, mais ainda me atormenta a mente, a dúvida que paira no ar. Teria eu encontrado o amor de toda a minha vida, ou estaria simplesmente cego apaixonado por uma estranha desconhecida?

3 comentários:

  1. Talvez a resposta pareça um tanto quanto óbvia para quem lê, mas acredite.. Não para quem sente.

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  2. Chuva
    Era uma ensolarada manhã de fevereiro, o dia perfeito. Em meio à verde grama se arrumavam fileiras de cadeiras, adornadas por rosas, jasmins e lírios, postas ao lado de um luxuoso tapete vermelho, de bordas douradas, que seguia até um simples altar, onde uma mesa, um padre e eu a aguardávamos.
    Minhas mãos suavam, minhas pernas tremiam, não conseguia parar de me perguntar se era aquilo que queria, mas aí me vinha sua lembrança, seu doce rosto, suave pele, lindos olhos e, mais do que tudo, seu belo sorriso, aquela sua boca tão cheia de dentes, sempre capaz de trazer luz ao mais sombrio dos corações, sempre hábil em me alegrar.
    Mas eis que sem demora ela chega, sóbria e serena, linda como nunca, e todas as atenções não tinham como não ser dela. Na outra extremidade do tapete, ao me ver, por debaixo daquele véu, pude divagar no fulgor de seu sorriso, soube naquele instante que não havia mais dúvida, era com ela que queria passar o restante dos meus dias, era ela quem eu amava.
    Seu vestido de noiva era daquele estilo tradicional, branco e puro (como a dona), de saia volumosa, luvas rendadas e um longo véu. Sua entrada foi acompanhada por um caminho de pétalas de flor de cerejeira, derramadas por seu priminho Jonathan. Seu buquê, não sei muito bem com que flores foi feito, mas certamente era o mais belo que já havia visto. Enfim, naquele momento nada mais importava, apenas ela, passo a passo se aproximando, para finalmente ser somente minha.
    Sim, foi o que ela disse, também não recordo muito bem do resto, para dizer a verdade, não lembro nem do que disse, parece que estava em transe, flutuando, hipnotizado por sua beleza, sendo resgatado ao final por um suave beijo seu.
    Nunca esquecerei daquele dia, o mais feliz de minha vida, e ela, aqui ao meu lado continua, para sempre a minha pequena pétala de sakurá, e eu, seu eterno príncipe encantado.

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  3. O outro sempre será um estranho, mas curiosamente é justamente lá, onde tudo ás vezes é diferente, que encontramos o melhor de nós mesmos.
    A dúvida é o preço da pureza.

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